Igualdade de gênero: no Brasil, só daqui a 95 anos


Embora em muitas sociedades legalmente esteja garantida a igualdade de direitos entre homens e mulheres, todos nós sabemos que, na prática, a balança é desequilibrada. Não à toa, este mês de outubro ficou marcado, para o mundo todo, como o outubro feminista, já que, no início deste mês, as mulheres polonesas fizeram greve geral em protesto contra um projeto de lei que pretendia acabar com a possibilidade do aborto e na Argentina, semana passada, as mulheres fizeram uma greve no trabalho em protesto ao feminicídio praticado contra uma jovem de 16 anos, cruelmente violentada, que foi abraçada por toda a América Latina em um grito uníssono: “Ni una menos”.

Ambos os casos chamam a atenção para o machismo e a violência de gênero. E aqui no Brasil a situação não é diferente. Para se chegar a um equilíbrio de direitos, pelo menos aqui no Brasil, seriam necessários 95 anos para que as mulheres conseguirem a plena igualdade, segundo um estudo anual feito pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). Em 2016, ocupamos a 79ª posição no ranking global da organização sobre o tema, conforme noticia a BBC baseada no relatório cujo link segue ao final deste artigo.

Desde 2006, o Índice Global de Desigualdade de Gênero avalia o progresso dos países na política de promoção para o equilíbrio entre homens e mulheres, levando em conta condições como saúde, educação, paridade econômica e participação política. Embora as brasileiras apresentem um desempenho melhor do que os brasileiros em indicadores como saúde e educação, na política elas não são igualmente representadas e, economicamente, elas ganham menos do que os homens.

O estudo indica que a situação das mulheres no mundo piorou, mas houve alguma melhora na América Latina e no Caribe, mas o Brasil ocupa a pior posição entre os países da região. O que mais afeta as mulheres brasileiras, segundo o relatório, é a falta de representação política e os salários baixos.

O que falta ao Brasil para promover a igualdade de gênero?

Para Saadia Zahidi, chefe para iniciativas de gênero e emprego do Fórum WEF, é necessário que os governos adotem medidas efetivas de inclusão das mulheres no mercado de trabalho e na política. “Para mudar isso, é necessário uma abordagem consciente, do ponto de vista econômico, para o aproveitamento desses talentos. Já temos mais mulheres se graduando na universidade do que homens, não se trata do futuro, isso já é o presente. Precisamos agora empregar essa força produtivamente”, diz.

O machismo faz com que os homens sejam socialmente os “representantes” das mulheres não apenas na política, mas, em muitos casos, em todos os âmbitos da vida da mulher. Tanto que Zahidi explica que, no Brasil, a percepção geral é de que as mulheres devem ser as cuidadoras da família, o que as impede de trabalhar para cuidar da casa e dos filhos ou, então, elas têm que enfrentar uma jornada de trabalho maior do que a dos homens, visto que, além de trabalhar fora de casa, ainda precisam cuidar, muitas vezes sem a ajuda do marido, dos afazeres domésticos.

Por isso, Zahidi afirma que é preciso mudar a percepção sobre a mulher na sociedade: “Mulheres de alta renda conseguem pagar para ter ajuda para as crianças e os idosos, mas mulheres de classe média e baixa não conseguem. É necessário oferecer a elas uma rede de apoio social que as liberte para o trabalho”.

Um outro dado considerado pelo estudo é o tempo de liderança exercido por uma mulher no país e a porcentagem da representação feminina em cargos políticos. A WEF preparou, a pedido da BBC Brasil, uma simulação do impacto do governo interino de Michel Temer, de acordo com o índice, visto que não havia nenhuma mulher compondo a sua equipe. O resultado foi que o Brasil passou a ocupar a 139ª posição (sendo que antes ocupada a 89ª) no sub-índice Empoderamento Político.

Um governo democrático pressupõe representatividade, sobretudo, em um país onde as mulheres são mais da metade da população. O empoderamento feminino que se dá através da representatividade serve de modelo e inspiração para as gerações futuras, destaca Zahidi.

Confira o relatório na íntegra clicando aqui.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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