Parque Indígena do Xingu: Vida, Tradições e Cultura


Conheça uma importante reserva indígena brasileira: o Parque Indígena do Xingu, criado em 1961 pelo presidente Jânio Quadros.

Os índios são povos nativos do Brasil, porém com os colonizadores europeus, a vida desse povo, nunca mais foi a mesma.

Perderam grande parte do espaço em que viviam, seguindo suas tradições e cultura. Foram induzidos, através da catequese dos jesuítas, a seguirem uma religião que não era a deles. Com o passar do tempo, o progresso e a urbanização dominaram seus espaços e o que foi restando para eles, se tornaram reservas de preservação indígena.

Grande parte da população indígena foi dizimada por exploração, conflitos por terras, doenças e exclusão social.

Neste conteúdo serão abordados aspectos de uma importante reserva indígena brasileira: o Parque Indígena do Xingu.

Essa reserva foi criada em 1961, pelo presidente Jânio Quadros, tendo sido a primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Os principais idealizadores dela foram os irmãos Villas Boas.

O redator do projeto foi o antropólogo e, então funcionário do Serviço de Proteção ao Índio, Darcy Ribeiro.

O Parque Indígena do Xingu se situa no estado de Mato Grosso e conta com mais de 27.000 quilômetros quadrados (aproximadamente 2.800.000 hectares).

A região é plana, com matas altas entremeadas de cerrados e campos, é atravessada pelos formadores do Rio Xingu, e pelos seus primeiros afluentes.

Neste Parque vive o que restou da Cultura Indígena, sofrendo o impacto da urbanização, a pressão dos latifundiários de agronegócios, a invasão de garimpeiros e madeireiros pela disputa do espaço e das riquezas naturais que, ainda, há, para a preservação e continuidade desse povo e suas diversidade cultural e tradições.

Saibam mais sobre os índios do Parque do Xingu, através dos seguintes tópicos:

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Forma de Vida e Costumes

parque xingu 3

As aldeias do Parque do Xingu, em geral, são constituídas por casas cobertas de sapé construídas em volta de uma praça de chão batido.

No centro desta praça fica a chamada casa dos homens, na qual ocorre reuniões masculinas e onde são guardadas as flautas sagradas, que são tocadas no interior da casa ou a noite no pátio, quando as mulheres estão recolhidas.

O lugar onde são enterrados os mortos é no interior dessa mesma praça, lugar onde também são realizados rituais e eventos tradicionais indígenas.

Nas habitações convivem núcleos familiares, geralmente constituídos por irmãos homens e suas respectivas famílias.

Geralmente um índio se torna o líder do núcleo doméstico, por ter tido a iniciativa de construir a habitação e, por isso, é considerado o dono da casa.

As funções do dono da casa é coordenar as atividades produtivas e as tarefas cotidianas que envolvem os outros integrantes da família.

Um índio para desposar uma pretendente, precisa pagar um dote, que consiste de nos primeiros anos de casamento, ele residir na casa dos sogros, retribuindo com serviços, pelo consentimento dos pais de terem dado a mão de sua filha em casamento.

Realizado o pagamento do dote, o casal vai morar na casa de origem do marido.

Os donos de casa e o líder da aldeia podem ficar isentos desta regra. Nessas situações, desde o início, a mulher passa a residir na casa do marido e o pagamento do dote é feito através de bens.

Nas casas indígenas não existem divisões (cômodos), somente gabinete (uma espécie de retiro), onde ficam os jovens em reclusão, ao entrarem na fase da puberdade, os casais com filhos recém-nascidos e os viúvos no período de luto.

A reclusão faz parte da formação dos índios do Parque Xingu.

Na reclusão da puberdade, os jovens índios, recebem ensinamentos sobre o trabalho masculino, aprendem técnicas de luta huka-huka, são orientados sobre as responsabilidades sociais e a importância da liderança na comunidade.

Nessa fase de reclusão, o sexo deve ser evitado, para que o jovem utilize suas energia para ser um bom lutador.

Ao menstruar pela primeira vez, a jovem índia passa pela reclusão, neste período aprende as tarefas femininas, como o preparo dos alimentos e a confecção de artesanato.

Durante a sua reclusão, que geralmente não dura mais do que um ano, seu cabelo não é cortado. Ao término da reclusão, ela recebe um novo nome e passa a ser considerada adulta, pronta para ser desposada para o casamento.

As famílias no fim da tarde, depois das atividades e tarefas de rotina da aldeia, costumam ficar nas portas das casas, conversando e até realizando cuidados de higiene através de ajuda mútua (depilando pelos, catando piolhos, penteando os cabelos, entre outros).

Os jovens geralmente se pintam e se enfeitam.

Os índios adultos e de mais idade se reúnem na casa dos homens, onde fumam e conversam.

Ao anoitecer, todos se recolhem e as famílias se reúnem em volta da fogueira, onde jantam, reunidos

Organização

A unidade política, no Parque do Xingu, é a aldeia.

O líder da aldeia atua como mediador e moderador de conflitos, devendo promover a solidariedade e harmonia interna da comunidade.

Para ser líder, o índio precisa ter o consentimento do grupo, principalmente, dos que lideram os núcleos familiares domésticos.

Um líder indígena necessita ter habilidade política e saber se comunicar e interagir com seu povo.

Já os líderes dos núcleos familiares, os donos da casa, tem como funções a transmissão das informações passadas pelo do líder da aldeia ao seu grupo doméstico e a coordenação das tarefas cotidianas.

Na falta, por alguma circunstância do dono da casa, seu primogênito o sucede.

No Parque do Xingu vivem diversas etnias indígenas e algumas não têm um contato amistoso entre si, não ocorrendo integração sócio, político e cerimonial.

Diante de possíveis divergências, entre as várias etnias, existe um órgão mediador, que é a Associação Terra Indígena do Xingu buscando articular a convivência pacífica, harmônica e, até, promovendo a integração de todos os povos habitantes do Parque do Xingu e arredores, se valendo, para isso, de reunir as lideranças de todas as comunidades indígenas da região.

Trabalho

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No Parque Indígena do Xingu, r tem a sua roça, onde, principalmente se cultiva a mandioca.

Os homens preparam a roça e as mulheres retiram a mandioca do solo.

A índia processa a mandioca, extraindo dela a polpa e o polvilho, ambos ingredientes fundamentais do beiju, que é o alimento principal e típico dos indígenas.

Para a retirada do sumo tóxico da mandioca se realiza a prensagem da massa, através de uma pequena esteira de talos enrolada.

Outro alimento extraído da mandioca é o mohete, constituído de um caldo grosso e adocicado, resultante da fervura da água da lavagem da polpa da mandioca.

Depois da secagem, a polpa da mandioca e o polvilho são armazenados em grandes recipientes arredondados.

As índias assam o beiju em chapas de cerâmica.

Outros alimentos produzidos na aldeia são:

  • milho,
  • mamão,
  • abóbora,
  • melancia, entre outros.

A atividade agrícola na aldeia ainda inclui o cultivo de outros vegetais, tanto para serem utilizados em cerimônias (como urucum e fumo), como para produção artesanal (como cabaça e algodão).

Os índios também coletam alimentos na Natureza e essa tarefa constitui um trabalho coletivo, que envolve a participação de mulheres e crianças.

Os principais produtos coletados na Natureza são pequi, jenipapo, mangaba e outros.

Dentre eles, a castanha extraída do pequi destaca-se dos demais como alimento cerimonial distribuído nas cerimônias entre as aldeias.

O fruto do pequizeiro por existir na região de forma abundante, é muito consumido e utilizado de várias formas pelos indígenas.

O pequi é comido cru, assado ou diluído no mingau de mandioca.

Leia também: 4 MANEIRAS DE FAZER CONSERVA DE PEQUI

Os Kaiabi, um dos povos do Xingu, têm agricultura refinada, constituída por diversas espécies vegetais tais como amendoim, macaxeira, cará, batata-doce, mangarito e banana.

Além de produzir outros tipos de beiju, eles também fazem vários tipos de mingaus enriquecidos com produtos da roça e frutas.

Os Yudjá, outro povo do Parque do Xingu, produz o caxiri, bebida feita de mandioca fermentada, que, também é consumido pelos Kaiabi, Kisêdje e Trumai, outros povos desta reserva indígena.

Para a produção de artefatos e indumentária, principalmente de uso masculino e confecção de panelas, caldeirões e cuias se utiliza muito o metal. A maioria dos materiais utilizados para a produção artesanal é de origem nativa, madeira, embira, fibra de buriti, algodão, e outros, entretanto, também, são usados materiais industrializados, como contas e miçangas de porcelana e vidro, algodão, lata, prego, corante, etc.

O artesanato e a produção do óleo de pequi representam as principais atividades econômicas de comércio, para além do Xingu.

Os núcleos familiares em parceria com a Atix (Associação Terra Indígena do Xingu) realizam transações com as várias comunidades indígenas do parque do Xingu, para definir estratégias de ampliação do comércio e produção artesanal indígena no Brasil.

O propósito desta iniciativa é conciliar geração de renda com a sustentabilidade ambiental, em comum acordo com as diversas etnias indígenas da região.

A influência da urbanização na vida dos índios

Nos últimos 30 anos, tem ocorrido uma acelerada urbanização com o surgimento de novas cidades no estado de Mato Grosso, como também em toda a Amazônia.

Esta realidade geográfica afeta as sociedades indígenas pois, esse avanço não se deu de forma justa e igualitária, visando a melhoria das condições de vida dos grupos indígenas, embora tenham surgido movimentos políticos e projetos sociais, revindicando isso.

O fato é que o indígena tem sido forçado a se adaptar, não só a influência e o contato com a vida urbana, mas como também aos interesses econômicos e capitalistas de mercenários, comerciantes, grandes ruralistas e empresários sobre a região.

Nesta relação, os indígenas sofrem desvantagens, pois, necessitam da ação da Gestão Pública, que nem sempre é eficiente, por atender os interesses de uma minoria dominante, cujo objetivo é enriquecer com a terras e riquezas do território indígena.

Outro fator marcante é que, neste processo, o índio tem sofrido influências em seu comportamento e mentalidade, se aculturando, deixando de lado as tradições de seu povo ou, simplesmente, as modernizando, se distanciando dos antigos costumes e de suas raízes culturais.

Alguns fazem isso por necessidade, outros devido ao fascínio pela vida moderna.

Seja como for, e as razões que levem o indígena a isso, alguns têm realmente incorporado a cultura ocidental herdada pelos colonizadores europeus e pelos hábitos da vida contemporânea, abrindo mão de muitos de seus costumes, mais tradicionais, naturais e simples, e, até, trocando a vida na aldeia para viver na cidade.

A importância da preservação e valorização dos Povos Indígenas do Xingu

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O Parque Indígena do Xingu tem mais de meio século de existência, abriga 16 etnias indígenas, com milhares de índios povoando esta reserva.

A existência desta reserva indígena é de vital importância para a preservação ambiental da área e a conservação e difusão do conhecimento acumulado de geração em geração da Cultura Indígena.

Desde sua criação, o Parque do Xingu enfrentou frequentes invasões predatórias de pescadores, garimpeiros, fazendeiros e a ameaça do avanço do agronegócio e outros empreendimentos na região, representando grande risco para a preservação das áreas onde vivem os povos indígenas.

Apesar de tudo isso, os povos indígenas e a biodiversidade do Parque Nacional do Xingu resistem à todas essas ameaças.

O que precisa ser percebido pelos governantes e todo o povo brasileiro e exaltado, aos quatro ventos, é que a maior riqueza da região é a expressão da vida que nela existe!

A manifestação desta Vida é representada pela existência humana, de um povo com uma grande e rica herança cultural e pela diversidade natural de várias espécies animais, vegetais e minerais, presentes na região.

Por isso, vale enfatizar: Respeitemos a Vida no Xingu!

Fonte foto capa: Wikipedia




Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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