Ilhabela: das 19 praias, 18 são impróprias para banho!


O problema de saneamento básico no Brasil é histórico e segue sendo grave: somente 45% do esgoto do país é tratado.

Os outros 55% são despejados diretamente no meio ambiente, o equivalente a 6 mil piscinas olímpicas de esgoto por dia, segundo informa o G1 a partir de um estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil.

O problema se reflete no dia a dia de milhões de brasileiros que, em contato com o esgoto não tratado, ficam vulneráveis a doenças que poderiam ser facilmente evitadas se eles tivessem condições dignas de moradia.

Mas, também, turistas em férias estão expostos ao risco da falta de saneamento, como é o caso daqueles que frequentam a cidade litorânea de Ilhabela, no interior do estado de São Paulo.

Ilha nem tão bela assim

Ilha Bela conta com 35 mil habitantes, mas, no verão, a cidade registra a visita de 120 mil turistas lotando as suas praias, que estão cada vez mais poluídas.

Com tanta gente chegando ao arquipélago anualmente durante as férias de verão, era esperado que a prefeitura investisse em saneamento básico. Entretanto, não é isso que vem ocorrendo durante os últimos anos. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) classificou 18 das 19 praias analisadas em Ilhabela como impróprias para o banho de mar, como informa o jornal local Litoral Play. Apenas a praia do Pinto recebeu bandeira verde nesta semana.

As análises da Cetesb foram feitas durante quatro semanas em 2018, distribuídas nos meses de fevereiro e novembro, tendo se agravado em dezembro e janeiro de 2019, o que levou o órgão a hastear a bandeira vermelha, o que significa alta concentração de poluição fecal nos pontos de coleta de água.

Praias afetadas

As praias mais badaladas são as mais afetadas pela poluição, como: como Curral, Feiticeira e Ilha das Cabras, ao sul, e Saco da Capela, na região central, justamente as mais procuradas por turistas brasileiros e estrangeiros que desembarcam na ilha em transatlânticos. As praias do Portinho e Veloso, que estão localizadas em um santuário ecológico marinho, também não passaram no teste.

O esgoto em Ilhabela não recebe o tratamento adequado: ele passa apenas por uma primeira triagem, que consiste em retirar os resíduos sólidos mais evidentes, como fraldas e absorventes. O que sobra recebe cloro e é devolvido ao mar. A coordenadora do instituto Ilhabela Sustentável, Gilda Nunes, é categórica:

“O esgoto produzido por 25 mil pessoas é lançado no oceano sem tratamento”.

Além da horda anual de turistas que chega ao arquipélago, a ocupação desordenada é mais um desafio para o sistema de saneamento local. Nos últimos oito anos, a região cresceu 21,7% demograficamente.

Mas isso não é desculpa para a negligência municipal, já que a Prefeitura de Ilhabela, desde 2017, deveria destinar 10% dos royalties de exploração do petróleo para o tratamento de água e esgoto, ação que não tem sido realizada respeitando esse percentual.

ilhabela sustentavel

Perigos da poluição

A Cetesb alerta que os banhistas expostos à água do mar contaminada sofrem riscos de contrair doenças como gastroenterite e hepatite A, causadas por bactérias, vírus e protozoários. Idosos e crianças são as principais vítimas e, por isso, devem tomar mais cuidado ainda quando estão na praia.

O problema do saneamento básico no Brasil

A pesquisa do Instituto Trata Brasil aponta que o saneamento básico tem recebido avanços tímidos por parte do poder público no país. Confira alguns dados:

  • Em 2016, 16,7% (cerca de 35 milhões de brasileiros) ainda não tinham acesso ao serviço de abastecimento de água potável. De 2011 para 2016, o índice de atendimento aumentou em apenas 0,9 ponto percentual.
  • Quanto à coleta de esgoto, 51,9% da população tinham acesso ao serviço em 2016. Já 48,1% (mais de 100 milhões de pessoas) faziam uso de medidas alternativas para lidar com os dejetos – como fossa ou jogando o esgoto diretamente em rios. De 2011 para 2016, o percentual de atendimento avançou 3,8 pontos percentuais.
  • 44,9% do esgoto produzido no país era tratado em 2016. Em 2011, o índice era de 37,5% — um aumento de 7,4 pontos percentuais.

Para Édison Carlos, presidente executivo do instituto:

“No caso do tratamento de esgoto, houve um pouco mais de um ponto percentual de alta por ano. Se considerarmos que não chegamos nem nos 50% de atendimento, estamos falando de mais de 50 anos [para universalizar]. Isso é inaceitável. É muito tempo para ter essa estrutura tão essencial, que é a do saneamento”.

A demora na prestação de um serviço básico vai contra o Plano Nacional de Saneamento Básico e a compromissos internacionais assinados pelo Brasil, como o firmado na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015, em que o país se comprometeu a tornar universal o acesso à água potável, bem como o saneamento e a higiene adequados a todos os brasileiros.

O que fazer?

Se for à praia nessas férias, informe-se sobre a qualidade da água do mar das praias que irá visitar. Seja você, também, um exemplo: embora você seja um visitante, deixe um rastro positivo para onde você for. Não polua o meio ambiente! Guarde o seu lixo até encontrar uma lixeira onde possa depositá-lo. Assim você vai poder voltar para aquele lugar bonito que você escolheu para descansar sempre que quiser!

Cobre dos políticos eleitos o serviço de saneamento básico para todos. Quando a gente tem água limpa que escorre da torneira, coleta de lixo à porta de casa e sistema de esgoto, a gente não imagina que o quão sortudo somos. Mas o meio ambiente é um bem universal e precisa ser conservado para a vida de todos.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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