Índio Doutor pela Universidade de Brasília


Em um período no Brasil em que muito se discute sobre os índios e seus direitos, das possibilidades de extinção de um povo que estava aqui muito antes dos navegadores portugueses chegarem ao Brasil, um índio, nascido na cidade de Tarauacá, Acre, na Terra Indígena Praia do Carapanã, de nome Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá, tornou-se o primeiro representante do povo indígena no país a receber o título de doutor em linguística pela Universidade de Brasília (UnB), depois de defender sua tese: “Para uma gramática da Língua Hãtxa Kuin”.

A tese foi defendida no último dia 19 de janeiro e consagrou o primeiro índio doutor, cuja alfabetização na língua portuguesa só ocorreu aos 20 anos de idade, em um programa alternativo coordenado pela Comissão Pró-Índio do Acre. Por meio do programa, Joaquim Maná, como é mais conhecido, fez o magistério indígena e a graduação em um curso intercultural indígena na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Já o mestrado, assim como o doutorado, foram concluídos na UnB.

O grande desafio de Maná, além das dificuldades costumeiras de estrutura e suporte ao povo indígena, na feitura de seu doutorado foi o tema escolhido por ele, que tratava da língua de seu povo Huni Kuín. A dificuldade para encontrar material de pesquisa, principalmente em português, foi enorme. “Muitas pesquisas foram escritas em inglês, alemão, francês e espanhol e não foram apresentadas ao povo, ficaram guardadas”, revela Maná.

O doutorado do índio pode servir de exemplo no combate à uma ameaça contra um patrimônio histórico nacional, a perda de até 60 diferentes línguas indígenas, conforme retratou recentemente a Agência Brasil na reportagem especial “Ixé Anhe’eng”. Tal perda representaria a extinção de cerca de 30% das línguas indígenas existentes no país.

Embora esperançoso de que seu doutorado possa ajudar, Joaquim Maná não acredita em grandes mudanças para o futuro, ao menos sem o maior engajamento da sociedade e do Estado: “Das 12 terras que nós temos, seis já estão com problemas. Os mais velhos falam na nossa língua e os jovens já não falam mais. Falam em português. Agora é preciso se aliar às secretarias municipais, estaduais, ONGs [organizações não governamentais] que trabalham com os povos indígenas, para criar um programa e manter um curso de ensino de língua oral, língua escrita e produção de material didático”, acrescenta Maná.

Felizmente, o exemplo de Maná deve se repetir em breve, conforme revelou a coordenadora do Laboratório de Literatura e Línguas Indígenas da UnB, Ana Suelly Cabral, em que revela a existência de mais dois índios prestes a conquistar o título de doutor pela mesma universidade de Joaquim em fevereiro e maio de 2016.

O agora doutor Joaquim Maná deverá retornar à Terra Indígena Praia do Carapanã, com o intuito de reforçar o ensino da língua Hãtxa Kuin entre as crianças e os adultos.

Este é o Brasil que queremos: respeito ao povo indígena e valorização da sua cultura!

Leia também: Índios na UFSCAR

Fonte foto: wikipedia.org




Redação greenMe

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