Triste aniversário: Mariana quatro anos depois…


Aniversário é uma data festiva, mas não o 5 de novembro na cidade mineira de Mariana e no Brasil. Há 4 anos, o município foi cenário de uma das maiores tragédias ambientais do Brasil.

Em 2015, a barragem de rejeitos de mineração da Samarco se rompeu, provocando efeitos que perduram no tempo e no espaço devido a danos incalculáveis.

Da lama ao caos, do caos à lama

O rompimento da barragem do Fundão, controlada pela empresa Samarco, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos, tirando do mapa os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, no estado de Minas Gerais.

O mar de lama matou 19 pessoas, afetou 39 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo, ao percorrer mais de 600 km pelo rio Doce e seus afluentes até desembocar no oceano Atlântico, destruindo toda forma de vida que encontrou pela frente.

O resultado dessa catástrofe após 4 anos é um cenário de ruínas e a anulação das ações de homicídio e de crime ambiental. Ninguém da Samarco, subsidiária da Vale, nem da empresa anglo-australiana BHP foi condenado ou preso, como informou o jornal Estado de Minas.

À espera das indenizações

As vítimas atingidas pelo caos provocado pela lama da Samarco ainda aguardam serem indenizadas judicialmente. O comerciante Mauro Marques da Silva, morador do que foi Bento Gonçalves, revelou ao Jornal Nacional que:

“A gente vê que a estratégia das empresas vem funcionando no sentido de cansar as pessoas e não dar uma solução adequada”.

Isso vem acontecendo porque a fundação criada para reparar os danos ambientais e indenizar os atingidos, Renova, age buscando prorrogar na Justiça os prazos para a entrega de casas em ambas as localidades arrasadas pela lama.

De acordo com a Renova, aproximadamente 320 mil pessoas receberam R$ 1,840 bilhão em indenizações e auxílios financeiros emergenciais, além de R$ 6,7 bilhões terem sido destinados a ações de reparação. Entretanto, o promotor do Ministério Público de Minas Gerais, Guilherme Meneghin, denuncia que menos de 5% das vítimas foram, realmente, indenizadas, segundo o ND+.

Para o promotor, a criação da Fundação Renova foi “um erro terrível”. Ele justifica que:

“Depois do crime, a pior coisa para a cidade foi a criação da Fundação Renova. Ela já gastou R$ 6,68 bilhões e a gente não viu essa reparação chegar na ponta, efetivamente, para os atingidos”.

Das 3.500 vítimas em Mariana, apenas 151 foram indenizadas. A Renova nivela, em seu cálculo, as indenizações e os auxílios financeiros pagos, mas estes equivalem apenas ao pagamento de um salário mínimo mensal e de uma cesta básica às vítimas.

Outro problema apontado pelo promotor é a ausência de apoio para que as vítimas tenham condições de retomarem às suas vidas, visto que 800 famílias ainda vivem de forma provisória em casas alugadas.

Danos à saúde

Outra questão com a qual as vítimas convivem são os problemas de saúde provocados pela contaminação de metais pesados.

Problemas dermatológicos e respiratórios são os mais comuns, que se manifestam com erupções na pele, coceira, alergias, dificuldade para respirar e dores no corpo, informa a BBC News Brasil.

A coordenadora da equipe de assessoria técnica aos atingidos do município de Barra Longa (Aedas), Veronica Alagoano, alega que não existe, até hoje, um protocolo específico para atender os moradores que apresentam algum sintoma. Segundo ela, em Barra Longa, o povo “está completamente abandonado”.

Recuperação do meio ambiente

Ademais desse cenário catastrófico, a Samarco deixou, também, 700 quilômetros de rios poluídos, 40 mil hectares de vegetação de Áreas de Preservação Permanente impactados e 11 toneladas de peixes mortos, como divulgou a CBN. Não é possível dizer, após quatro anos, quanto tempo vai demorar para o meio ambiente se recuperar – se é que ele vai.

O presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais, Renato Brandão, alega que os prazos para o reflorestamento não estão sendo cumpridos pela Renova, conforme previsto no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC).

O porta-voz da Renova, André de Freitas, justifica o atraso:

“Mais de 100 afluentes reconstruídos. São 113. Reconformação dos rios, estabilização de rejeito, revegetação da áreas impactadas, e tem o processo de renaturalização, que é a criação de estruturas para ajudar a reconstruir os habitats que foram perdidos com o rompimento. Tem alguns dados muito interessantes de peixes voltando e botando ovas nas estruturas de renaturalização. A gente acredita que esse processo demora um pouco mais.”

Mas não é o que um estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra. Foi comprovada uma concentração de metais pesados, como mercúrio e chumbo, em amostras de peixes coletados no Rio Doce, acima da permitida para consumo.

Um outro estudo, realizado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, aponta que a contaminação chegou até o Parque Nacional de Abrolhos (BA).

O pesquisador Heitor Evangelista explica que:

“Verificamos que alguns metais pesados que aumentaram durante a chegada da pluma da Samarco na foz do Rio Doce, aumentaram simultaneamente nesses corais, como zinco, cobre e outros metais. É uma prova de que essa contaminação se espalhou numa área oceânica muito maior do que se imaginava inicialmente”.

A dimensão da tragédia é muito maior do que se tem ciência. Além desse rastro de destruição, choca e revolta que ninguém tenha sido responsabilizado e que esta, bem como Brumadinho, eram tragédias anunciadas.

Relembre a tragédia de Mariana no vídeo da TV Cultura:

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Fonte foto: Antonio Cruz-Agência Brasil




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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