Brasil, um dos países mais preocupantes com relação ao uso de antibióticos em alimentos de origem animal


Bactérias resistentes aos antibióticos, as superbactérias, estão aumentando devido ao uso indiscriminado de antibióticos em criações de animais para indústria de alimentos de origem animal.

O uso excessivo de antibióticos na agropecuária está alarmando médicos e cientistas, pois tem tornado as bactérias super resistentes e estão passando dos alimentos de origem animal para o organismo humano.

Um dos fatos que chamou a atenção para esse problema ocorreu há quatro anos, em uma fazenda de criação intensiva em Xangai, na China, quando foi detectada uma bactéria resistente ao antibiótico colistina no exame feito em um porco criado para o abate.

A bactéria resistente encontrada no suíno era a Escherichia coli e,  com essa descoberta, os cientistas chineses passaram a estender os exames em frangos de fazendas, nas carnes cruas desses animais e em pessoas hospitalizadas com infecções.

Os cientistas constataram uma “alta prevalência” do Escherichia coli  devido à alta resistência ao potente antibiótico colistina com  potencial de se estender para outras bactérias, como a Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa.

Essa bactéria resistente pode passar dos animais para os humanos e o caminho de “transmissão” desses microrganismos tem relação com o consumo de alimento de origem animal e também com o lixo hospitalar, lençóis freáticos, rios e canais de esgoto. 

As bactérias não têm fronteiras: a resistência pode passar de um lugar à outro, sem passaporte e de várias formas”, explicou à BBC Brasil, Flávia Rossi, doutora em patologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e integrante do Grupo Consultivo da OMS para a Vigilância Integrada da Resistência Antimicrobiana (WHO-Agisar).

Alerta vermelho para o Brasil

O Brasil está entre os vários países que foram detectados com a resistência microbiana em animais destinados à alimentação, principalmente bovinos, porcos e frangos, e isto foi revelado através de amostras de exames coletados nesses animais.

O resultado desses exames indicou a existência de microrganismos resistentes a determinados antibióticos.

As maiores resistências estão associadas aos antibióticos mais usados na produção animal, como as tetraciclinas, sulfonamidas, penicilinas, destacando-se a resistência à ciprofloxacina e eritromicina.

A pesquisadora brasileira Silvana Lima Gorniak, professora titular da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, também à BBC ressaltou que  o uso de antimicrobianos na produção animal tem a finalidade de promover o crescimento dos animais.

Vale ressaltar que essa é uma prática cruel da indústria da carne e a mais debatida pela ciência, pois, a administração de antimicrobianos como melhorador de desempenho, é feita no animal que não tem nenhuma doença e de fato ele cresce, porém de forma antinatural.  

De acordo a Organização Mundial de Saúde – OMS, os antimicrobianos são o último recurso para o tratamento de algumas doenças para as quais outros antibióticos não funcionam mais e já se mostraram altamente vulneráveis à resistência microbiana.   

A diretora da organização Mercy for Animals no Brasil,  Sandra Lopes, vê o uso de antibióticos como uma das práticas degradantes impostas aos animais:

“O uso de antibióticos força esses animais a seguirem produzindo em um sistema completamente cruel, onde os animais não podem exercer nenhum de seus comportamentos naturais.”

Como exemplos, ela aborda os confinamentos intensivos de animais em gaiolas, no qual as galinhas poedeiras, ficam espremidas como “uma pessoa vivendo dentro de um elevador com outras 12 pessoas”, sem espaço para abrir as asas ou ciscar, estas aves ficam sem forças nas pernas por não movimentá-las, e por isso, acabam sofrendo fraturas com o peso do próprio corpo, desencadeando a necessidade do uso de antibióticos.

Outros fatores, neste caso, para o uso de antibióticos é a debicagem, quando os bicos dessas aves são retirados para evitar o canibalismo provocado pelo estresse vivido pelos animais. 

Sandra Lopes relata ainda como causas para o uso de antibióticos: a falta de ventilação, a lotação de animais e o contato com excrementos, aspectos estes que fazem parte da realidade da produção de animais para o abate. Ou seja, a precariedade na produção animal está relacionada ao uso excessivo de antibióticos, porque ambientes sujos e degradantes favorecem a proliferação de doenças, além dos antibióticos serem empregados como melhorador de desempenho.   

Além da carne, também foram encontradas bactérias resistentes no queijo e uma comprovação disso é a dissertação de mestrado de Cristiane Rodrigues Silva, que através de amostras de queijo minas frescal detectou conjunto de bactérias resistentes – em 13%, a resistência foi constatada para todos os antibióticos testados e, em 80%, para 8 a 10 diferentes antibióticos. Foi detectada ainda resistência em 87% aos carbapanêmicos, tipo de antibiótico potente utilizado como uma das últimas alternativas na luta contra microrganismos muito resistentes.

O uso indiscriminado de antibióticos

O Dr. Gail Hansen, veterinário e diretor sênior para a Campanha sobre Saúde Humana e Agricultura Industrial da Pew, apontou que o uso de antibióticos em animais está fora de controle.

Para o especialista, administrar antibióticos em animais saudáveis, colocando estes medicamentos na alimentação e na água deles para que cresçam e também compensar condições desfavoráveis e anti-higiênicas é uma conduta que precisa ser reexaminada.

Afinal quem em sã consciência tomaria antibiótico estando bem de saúde?

Outros fatores envolvidos na contaminação de alimentos de origem animal

Além do uso indiscriminado dos antibióticos na produção animal que pode contaminar o organismo humano, existem outros motivos que nos levam a repensar sobre o consumo de alimentos de origem animal, tais como: a administração de hormônios para acelerar o crescimento deles (ainda que haja quem negue, justificando que este uso encarece a produção),  o uso de monóxido de carbono para a carne parecer mais fresca, e a utilização de amônia e cloro na limpeza e preparação de produtos feitos com carne.

Existem ainda outros fatores desencadeantes da contaminação e toxidade da carne e dos alimentos de origem animal. Em nosso site você encontrará inúmeras matérias sobre isso. Informe-se pelo bem da sua saúde, da vida animal e do nosso planeta.

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Deise Aur

Professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos Fala e escreve para greenMe desde 2017.


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