Número de animais mortos pelo vazamento de óleo no nordeste pode ser muito maior


O número de animais mortos pelo vazamento de óleo no nordeste pode ser muito maior do que o que se tem notícia até agora, afirmou ontem (14) o biólogo Clemente Coelho Júnior, em entrevista à Folha de São Paulo.

Como ressaltou, a área atingida é gigantesca, indo de Salvador aos Lençóis Maranhenses. Conselheiro da área de preservação ambiental Costa dos Corais, nos estados de Pernambuco e de Alagoas, ele afirma que, dada a extensão do problema, o Ibama não tem capacidade operacional para atuar e contabilizar todos os casos.

O Ibama, por sua vez, afirmou que, até agora, entraram na contagem os animais encontrados sem vida que estavam cobertos de óleo, mas não necessariamente havia um laudo veterinário. Além disso, há a possibilidade de muitos serem contaminados em alto mar e jamais chegarem ao litoral, o que reforça o argumento de que o estrago é bem maior do que se sabe.

Mobilização social

A sociedade vem se mobilizando para ajudar como pode. Na Bahia, surfistas reuniram, no último sábado (12), cerca de 500 pessoas em um mutirão pela limpeza de 17 praias, não só da capital Salvador, mas incluindo, também, cidades do litoral norte do estado.

Em dois dias de trabalho, o balanço do grupo de voluntários – que reuniu surfistas, pescadores, marisqueiras e fiéis de igrejas evangélicas – é desolador: foram encontradas três tartarugas mortas, sendo uma adulta e dois filhotes, além de diversos peixes e crustáceos.

“Achamos um bagre que estava cheio de piche na barriga”, contou Givaldo Batista à Folha, presidente da Colônia de Pescadores de Sítio do Conde, que fica a cerca de 180 km de Salvador.

O óleo também tomou conta da foz do rio Ipojuca, um berçário de diversas espécies no litoral norte da Bahia, e invadiu manguezais, cobrindo caranguejos e siris. Só ali, os voluntários recolheram em torno de 3 mil litros do material, que foi encaminhado para a defesa civil.

Segundo o biólogo Clemente Coelho Júnior, existe o risco de que o dano seja irreversível, uma vez que, ao longo do tempo, o óleo se decompõe, liberando no ambiente metais pesados e outras substâncias tóxicas.

“Os metais pesados se acumulam nos animais do topo da cadeia alimentar, como tubarões e golfinhos, o que pode causar morte, doenças e deformações em alguns bichos”, explicou Júnior.

O biólogo acrescentou ainda, que, mesmo removendo-se o óleo das praias, parte dele pode acabar incrustando-se em alguns ecossistemas, criando áreas sem vida.

São muitas perguntas sem respostas: não se trata apenas do desconhecimento em relação ao real impacto na fauna, mas também da dúvida quanto aos responsáveis. Paira, ainda, o questionamento em relação à ação do governo, considerada inadequada, ineficaz e lenta por diversos especialistas, como o Green Me tem noticiado. Nesse cenário, a única certeza é a de muitas vidas correm perigo.

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Gisele Maia

Jornalista e mestre em Ciência da Religião. Tem 18 anos de experiência em produção de conteúdo multimídia. Coordenou diversos projetos de Educação, Meio Ambiente e Divulgação Científica.


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