Gordofobia: será que você é gordofóbico?


É preciso falar sobre preconceitos. Esse tema, comumente, costuma ser varrido para debaixo do tapete, mas é com uma boa conversa que conseguimos superar aquele preconceito escondido no canto da gaveta. E o preconceito que vamos discutir hoje tem nome: gordofobia.

Existem preconceitos que são muito evidentes, enquanto outros são mais sutis, mas nem por isso menos dolorosos para quem é vítima deles. Pessoas gordas e obesas sentem na pele o peso de serem gordas pelo olhar atravessado que são dirigidos a elas no transporte público, na rua, nas redes sociais, no trabalho, enfim, quantas pessoas gordas não são “tímidas” porque tentam esconder quem são?

Pense bem: você tem um amigo gordo ou obeso? Se não, será que é apenas uma casualidade ou você pode ser gordofóbico?

O que é gordofobia?

Gordofobia é o preconceito que algumas pessoas têm por alguém ser gordo, julgando-o como inferior ou repugnante, explica Adriano Segal, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A nomeação do fenômeno é relativamente nova, embora esse tipo de discriminação exista há muito tempo. Basta pensar em como o mundo é pouco adaptado às pessoas com sobrepeso, legitimando socialmente um comportamento individual.

Exclusão social

As dificuldades das pessoas gordas são muitas: desde os assentos estreitos em transportes públicos e em cadeiras com braços em bares e restaurantes, não encontrar roupas em lojas que trabalham apenas com o manequim até o número 42, a constrangimentos cotidianos.

A jornalista Flávia Durante contou ao Hospital Oswaldo Cruz que, após engordar 30 quilos, começou a perceber o quão difícil era encontrar roupas para o seu estilo e corpo:

“Não deixei de fazer as coisas por ter engordado. Ia à praia, usava biquíni normalmente. O problema era encontrar peças que me servissem”.

Ficou evidente para ela que os gordos não sofrem apenas preconceito, mas uma série de exclusões sociais e do próprio mercado de consumo. Para resolver o seu problema e ajudar outras pessoas, ela decidiu se dedicar à moda plus size criando a feira Pop Plus Size, que congrega fabricantes de roupas com manequim acima de 44. Além de oferecer peças de vestuário para esse público específico, o evento é uma forma, também, de fortalecer a autoestima de pessoas gordas e o respeito à diversidade.

Discriminação é crime

Não existe uma legislação específica que tipifique a gordofobia como crime, mas isso não significa que pessoas gordas não possam ser amparadas pela lei em casos discriminatórios. O advogado trabalhista Guilherme Mônaco explica que: “É vedado pela lei que as pessoas sejam discriminadas na contratação e é função do empregador fornecer todos os materiais necessários para que o funcionário exerça sua função, inclusive uniformes do tamanho adequado para que a pessoa não passe por desconforto ou situação vexatória. Embora a gordofobia não esteja tipificada na lei, ela cai nos danos morais, que é quando a ação causa algum abalo psicológico”.

O art. 140 do Código Penal tipifica o crime de injúria e, caso uma pessoa gorda tenha a sua honra ofendida pelo fato de ser gorda, ela pode ser amparada judicialmente.

O problema é provar a prática do crime, pois a discriminação é, na maioria dos casos, muito subjetiva. Mas é possível evitá-la:

  • Não identifique uma pessoa por ela ser gorda. Evite designações do tipo “gordinho”, “fofinho”, grandão” e termos pejorativos.
  • Não relacione gordura à preguiça. Uma característica não tem nada a ver com a outra.
  • Não presuma que uma pessoa é gorda porque não consegue emagrecer. Ela pode estar feliz do jeito que é porque, simplesmente, se aceita.
  • Não diga expressões que associem beleza ao emagrecimento de alguém que já foi gordo. Existem várias formas de beleza.

O que está por trás da gordofobia

As pessoas são diferentes. Esse é um fato que muitas pessoas têm dificuldade em aceitar. Existem diversos mecanismos que tentar nos impor padrões de conduta, comportamento e, também, de estar no mundo, ferindo a nossa diversidade e a nossa própria natureza.

Os padrões de beleza impostos pela mídia e pela publicidade rotulam as pessoas e descartam as suas diferenças. Até mesmo as peças publicitárias contemporâneas, que fazem uso do tema diversidade como forma de cooptar consumidores, muitas vezes o fazem imbuídas de estereótipos.

Não existe um corpo perfeito. Todos os corpos são perfeitos em suas diferenças. Para alcançar esse ideal, que não existe, muitas pessoas têm sua autoestima destruída e acabam se submetendo a dietas loucas que atacam a sua saúde física e psicológica.

A psicóloga Ellen Moraes Senra disse ao site Dicas de Mulher que a gordofobia causa vários tipos de transtornos, principalmente alimentares, como compulsão alimentar, bulimia, anorexia ou vigorexia, que é a obsessão pelo padrão de vida fitness.

Claro que todos devemos tentar manter hábitos saudáveis para o nosso bem-estar. Mas uma pessoa magra pode não ser saudável, enquanto uma que é gorda pode estar organicamente muito bem.

O importante para qualquer pessoa é aceitar-se como é – e transformar aquilo que pode ser melhorado, independentemente de padrões estéticos. Temos que buscar ser melhores para estarmos bem conosco de uma forma ampla. Quando passamos a nos respeitar e a nos aceitar, abraçamos o nosso corpo entendendo que ele é um invólucro que nos protege do exterior. Mas, antes, precisamos parar de agredi-lo, ao reproduzir em nós mesmos crenças e comportamentos que nos violentam.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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