Cholitas: mulheres incríveis que lutam para vencer o preconceito de gênero


O machismo é um valor estrutural na América Latina, independentemente das diferenças culturais entre os países da região.

Um grupo de mulheres que sentiu historicamente no corpo o peso do machismo são as cholitas, bolivianas da região dos Andes. A palavra espanhola “chola”, que sempre carregou um estereótipo depreciativo, agora é um signo de orgulho para essas mulheres, informa o Mujeres a Seguir.

As roupas tradicionais das cholitas também eram vistas com preconceito. Suas amplas saias (conhecidas como polleras), seus chalés e mantas e suas tranças tinham que ser relegadas ao âmbito privado quando essas mulheres decidiam seguir um curso universitário ou uma carreira profissional. Entretanto, nos últimos anos, as mulheres indígenas de ascendência aimara têm protagonizado um movimento de reivindicação para manter viva a sua identidade: não deixam mais de vestir suas polleras, nem sequer para escalar as montanhas andinas.

Há alguns anos, elas formaram o coletivo “Cholitas Escaladoras” sob o lema “Querer é poder”. Elas se dedicam a escalar os picos mais altos dos Andes vestidas com capacetes e botas, sem dispensar suas anáguas e saias. Segundo as cholitas, escalar montanhas as ajuda a sentirem-se livres. Elas iniciaram a atividade sem qualquer preparação, contando apenas com o que haviam aprendido através de seus companheiros, alguns dos quais são guias profissionais. Depois, formaram-se em cursos de escalada e segurança em montanhas.

As cholitas já conquistaram picos como Illimani, Acotango, Parinacota, Huayna Potosí e, agora, estão planejando escalar a montanha mais alta da América do Sul, o Aconcágua, localizada na Argentina, na fronteira com o Chile. A produtora espanhola Arena está produzindo um documentário para contar essa aventura, que já tem um trailer disponível:

CHOLITAS from Arena Comunicación Audiovisual on Vimeo.

Violência de gêneroÉ importante destacar que a Bolívia é um país com altas taxas de violência contra as mulheres. Segundo um informe da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), divulgado em novembro de 2018, a Bolívia é o país com a mais alta taxa de feminicídio da região, de acordo com o site Página Siete. Isso significa que a cada três dias é registrado um feminicídio no país e, diariamente, são abertas 97 denúncias de violência contra a mulher.

Ante essas taxas, a ONU Mulheres, um mês após a publicação do informe, solicitou ao governo boliviano a geração de medidas efetivas de prevenção contra a violência de gênero.

Por isso, essas mulheres guerreiras são um exemplo de luta contra a violência de gênero em seu país e na América Latina. Não à toa, muitas estudiosas sobre o feminismo afirmam que o feminismo do sul do mundo é o principal instrumento de combate efetivo à violência de gênero, inspirando as mulheres do hemisfério norte.

Se você, assim como nós, ficou fã das cholitas, compartilhe a história delas com suas melhores amigas 🙂 Um mundo melhor é possível.

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Fonte foto




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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