Ayahuasca: detentos fazem terapia com chá alucinógeno


O céu da noite envolvia o posto avançado em Ji-Paraná, na Bacia Amazônica do Brasil, quando a cerimônia ao ar livre começou. Dezenas de adultos e crianças vestidos de branco estavam em linha quando um homem santo entrou e entregou uma xícara de ayahuasca, uma espécie de chá alucinógeno. Os presentes engoliram e tiveram diversas reações. Alguns vomitaram, outros começaram a cantar hinos diversos a luz do luar. Mais ayahuasca foi consumida e, à meia-noite, os membros da congregação pareciam estranhamente energizados. Em seguida, todos começaram a dançar.

Estes rituais são um costume realizado em toda a Amazônia, onde a ayahuasca vem sendo consumida por séculos por diferentes religiões que vêm se aglutinando em torno da mistura psicodélica. Mas uma cerimônia realizada neste mês de abril foi diferente: entre os que iriam sorver da ayahuasca do santo homem, encontravam-se presidiários. Condenados por vários crimes como assassinato, sequestro e estupro.

“Eu finalmente estou percebendo que eu estava no caminho errado nesta vida”, disse Celmiro de Almeida, 36 anos, que está cumprindo uma sentença por homicídio em uma prisão a quatro horas em uma estrada que serpenteia através da selva, conforme reportagem do New York times. “Cada experiência me ajuda a me comunicar com minha vítima para pedir perdão”, disse o Sr. de Almeida, que tomou ayahuasca quase 20 vezes no santuário.

A assunção de alucinógeno para detentos no meio da floresta tropical reflete uma busca contínua por maneiras de aliviar a pressão sobre o sistema carcerário do Brasil. Desde o início do século, a população carcerária saltou para mais de 550 mil presos, com cadeias lotadas, com revoltas que geram até decapitações, tudo em uma contínua violação dos direitos humanos.

Há dois anos, os terapeutas voluntários da ONG Acuda, pioneira em direitos dos detentos, tiveram a ideia: “Por que não dar aos presos a ayahuasca também?”. A poção amazônica, que é geralmente feita da mistura de um cipó (Banisteriopsis caapi) fervida com folhas de Psychotria viridis, está crescendo em popularidade no Brasil, nos Estados Unidos e vários outros países.

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A ONG Acuda teve problemas para encontrar um local onde os presos pudessem consumir a bebida, mas eles foram aceitos no Santo Daime, uma religião brasileira fundada em 1930 que mistura o catolicismo as tradições africanas e as comunicações com os espíritos de transe popularizado no século 19 por Allan Kardec.

“Muitas pessoas no Brasil acreditam que os presos devem sofrer, a fome e a depravação duradoura”, disse Euza Beloti, 40, um psicólogo da ONG.”Esse pensamento reforça um sistema em que os presos retornam à sociedade mais violentos do que quando entraram na prisão.” Na Acuda, ela disse, “nós simplesmente vemos os presos como seres humanos com capacidade de mudar.” 

No templo em Ji-Paraná, os detentos pareciam experimentar uma gama de reações depois de beber a ayahuasca. Sentados em cadeiras de plástico de jardim sob um telhado, alguns ficaram impassíveis. Outros pareciam perdidos na contemplação. Um ficava constantemente em lágrimas e todos cantavam fortemente enquanto o ritmo dos hinos se intensificava. 

“Somos considerados o lixo do Brasil, mas este lugar nos aceita”, disse Darci Altair Santos da Silva, 43 anos, trabalhador da construção civil cumprindo pena de 13 anos por abuso sexual de uma criança  menor de 14. “Eu sei o que eu fiz foi muito cruel. O chá me ajudou a refletir sobre este fato, sobre a possibilidade de que um dia eu possa encontrar a redenção”.

Muito forte tais relatos! O que você acha disso?

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Fonte foto: wikipedia.org




Redação greenMe

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