Número de mortes de lideranças indígenas em 2019 é o maior em 11 anos


No Brasil, 2019 tem sido marcado por várias tragédias, entre elas, os assassinatos de lideranças indígenas.

Ser militante no campo é colocar-se em risco todo o tempo. Em 2018, um relatório da ONG britânica Global Witness sobre as lutas pelos direitos humanos e pelo meio ambiente em 22 países revelou que o Brasil foi considerado o país mais violento para ativistas e defensores do meio ambiente em 2017.

De um total de 207 líderes indígenas, ativistas comunitários e ecologistas assassinados nos países investigados pela ONG, o Brasil encabeçou a lista com o maior número de ativistas ambientais assassinatos: 57, sendo que 80% atuavam em defesa da Amazônia. Na época, o Governo brasileiro contestou os dados.

Triste recorde 2019

Mas não dá para negar o que está evidente. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou que 2019 foi o ano em que mais lideranças indígenas foram assassinadas nos últimos 11 anos no Brasil.

Os dados, que foram divulgados nessa segunda-feira (9), revelam que, neste ano, já foram registradas 7 mortes – 5 a mais do em 2018. Nesse fim de semana, mais três indígenas foram assassinados e dois estão gravemente feridos. Dois mortos e os feridos são da etnia Guajajara e o outro é da etnia Tuyuca.

A CPT se baseia em dados enviados pelas pastorais regionais, que consideram os assassinatos relacionados a conflitos por terra. O coordenador nacional da CPT, Paulo César Moreira, avalia que o aumento no número de mortes de lideranças indígenas é consequência da institucionalização da violência nos conflitos do campo.

Não apenas indígenas estão sendo exterminados: mais 27 pessoas já morreram pela mesma razão este ano. Mas as principais vítimas, em 2019, têm sido lideranças indígenas. Ao G1, Moreira disse, ainda, que essa situação está respaldada pelo Estado brasileiro:

“Nós vivemos um momento em que o Estado é o agente promotor das agressões. Com todo esse momento político que a gente vive, os responsáveis pelas violências decidiram que esses povos indígenas não têm direitos e que têm que ser eliminados. Com isso, a gente está vendo um massacre”.

Além das mortes de líderes indígenas serem parte de uma política de “ofensiva feroz contra os índios”, como avalia o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro em uma entrevista à revista IHU, elas representam um enfraquecimento de suas comunidades e, portanto, da própria luta dos povos indígenas por direitos e territórios.

“A estratégia [por trás dos assassinatos] é enfraquecer a comunidade. Quando não se consegue, o que eles fazem é tentar atingir pessoas da comunidade de forma às vezes até aleatória. Mas a morte de lideranças é de forma bem arquitetada, para diminuir atuação e enfraquecer o grupo todo”, explica Moreira.

Os dados da CPT são endossados por outro levantamento, realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que mostra que o número de assassinatos de indígenas, em 2018, aumentou 20% em relação ao ano anterior.

O relatório do Cimi também revela o crescimento no número de invasões e exploração ilegal em terras indígenas, registradas em 19 estados, sendo Rondônia e Amazonas os com maior incidência desses tipos de caso em 2018.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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