Para indígenas queimadas ‘são uma praga’. Resistir até a última gota de sangue


Os incêndios na Amazônia são uma ameaça à biodiversidade e à cultura brasileira. Ante o cenário de destruição, lideranças indígenas da região têm mostrado a sua preocupação com a floresta e com a sua própria sobrevivência.

O Survival Internacional conversou com várias lideranças para saber como elas estão sentindo e interpretando o caos. O líder do povo Tenharim, Antonio Enésio Tenharin, disse:

“Cuidamos dessa terra, do nosso território. Até hoje, o fogo não tinha entrado. Mas agora veio de uma vez, em vários lugares. É um pavor para o nosso povo, porque faz nossas crianças ficarem doentes, mata os animais, só traz coisa ruim”.

A líder Sonia Guajajara também se pronunciou:

“Estamos colocando os nossos corpos e a nossa vida à serviço da preservação de nossos territórios… Os povos indígenas vêm alertando há décadas as violações que temos sofrido em todo o Brasil”.

Guajajara fez, ainda, uma análise da conjuntura que causou as queimadas na Amazônia:

“A ação predatória de madeireiros, mineradores, garimpeiros e latifundiários do agronegócio, que possuem um lobby poderoso no Congresso nacional com mais de 200 deputados sob sua influência; além de projetos relacionados à grandes empreendimentos, como as hidrelétricas, são ameaças que vem se aprofundando terrivelmente sob o governo anti-indígena de Jair Bolsonaro, que normaliza, incita e empodera a violência contra o meio ambiente e contra nós, povos indígenas e o nossos territórios”.

Uma liderança do povo Huni Kuin afirmou que:

“A natureza está chorando e estamos chorando. Se não pararmos essa destruição agora na Mãe Natureza, os filhos de todas as gerações que virá, viverão em um mundo completamente diferente daquele que vivemos hoje. Este é o chamado da Mãe Natureza nos pedindo para apoiá-la. E estamos trabalhando no presente para que todos nós como humanidade possamos ter um futuro. Mas se não pararmos essa destruição, seremos nós os que serão extintos, queimados e o céu descerá sobre nós, o que já começou a acontecer.”

O líder do povo Mura, Raimundo Mura, já havia dito à agência Reuters, na semana passada, que:

“Vou resistir até minha última gota de sangue…É uma praga. Você está vendo as vidas (dessas árvores) desperdiçadas ali. Todas essas árvores tinham vidas, elas todas precisavam viver, cada uma no seu lugar. Você consegue ver o dano. É o objetivo do homem branco acabar com isso.”

Uma NOTA também foi divulgada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) mostrando a preocupação da entidade com a destruição da Amazônia, atribuindo-a a um processo levado a cabo pelo governo de Jair Bolsonaro.

O diretor da Survival International, Stephen Corry, faz coro aos dizeres da nota emitida pela COIAB:

Esses terríveis incêndios não são acidentais. O ataque à Amazônia é facilitado pela retórica e pelas ações de Bolsonaro contra os povos indígenas e o meio ambiente, em um nível que não víamos há 50 anos. A Amazônia e os povos indígenas estão sendo destruídos em um ritmo extremamente acelerado. A melhor maneira de enfrentar a crise climática é lutar pelo direito e pela proteção das terras dos povos indígenas”.

É preciso averiguar a responsabilidade de agentes de Estado e de criminosos envolvidos nesse crime ambiental que afeta a Amazônia, o Brasil e todo o mundo. Os danos, como se sabe, são irreversíveis e não se pode cogitar uma nova possibilidade de a biodiversidade e as vidas indígenas serem novamente ameaçadas.

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Fonte foto: Sonia Guajajara. Survival




Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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