Os indígenas e o céu: as bases da mitologia indígena brasileira


Conhecer o céu, o movimento dos astros, o caminho do sol, a fase da lua, o brilho das estrelas e, especialmente, os desenhos que as estrelas fazem no céu noturno, as constelações – todas as sociedades humanas, em todas as épocas, se socorreram deste conhecimento, a astronomia, e suas interpretações e correlações, para entenderem melhor o mundo em que vivemos. Mas não só!

Os nossos ancestrais sempre olharam as estrelas, como em uma busca por orientação superior, mitológica. Seria crença? Não, não era crença apesar de, aos que não conhecem a ciência das correlações, esta parecer ser a verdade. É sim uma forma de identificar fatores cíclicos, como o passar das estações, a posição do barco no oceano, a chegada das grandes chuvas, ou da seca com sua nuvem de poeira, e até as revoadas de gafanhotos que comiam, e ainda comem, em alguns lugares da terra, tudo o que é verde.

A busca por explicações é o que move a ciência, o conhecimento. E, entender aquilo que é inexplicável aos olhos de muitos é o que move a criação de mitos.

As bases da mitologia indígena brasileira

Como diz Germano Afonso, estudioso do tema, “os indígenas há muito perceberam que as atividades de caça, pesca, coleta e lavoura estão sujeitas a flutuações sazonais e procuraram desvendar os fascinantes mecanismos que regem esses processos cósmicos, para utilizá-los em favor da sobrevivência da comunidade”.

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foto: espacoastrologico

“Para nós, o sol e a lua são irmãos gêmeos que deram origem de tudo. É o princípio de tudo, assim temos que conhecer a origem, que é o mito do sol e da lua”, comenta Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes), líder indígena da etnia Mbiá Guarani.

Sol e Lua

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foto: espacoastrologico

A Via Láctea, ou Caminho da Anta, é onde estão localizadas as principais constelações indígenas em suas formas de animais conhecidos, visíveis não só no pontilhado das estrelas mas também nas nuvens e nebulosas que pertencem ao todo. Para a mitologia indígena há um correspondente celeste para tudo o que há na terra que habitamos.

Algumas constelações da cultura ocidental também são conhecidas e bem, pelos indígenas do hemisfério sul – uma delas, a Cruzeiro do Sul, lhes serve, como a nós, para determinar os pontos cardeais, as estações do ano e a duração do tempo à noite. Só que na mitologia indígena esta constelação é a do Beija-flor ou Colibri.

Outra constelação em comum é o aglomerado estelar das Plêiades, que os tumpinambá chamam de “Seichu”. Esta tribo sabia quando viria chuva, e quanto tempo demoraria, dependendo da posição de Seichu no céu estrelado. Já para os Guarani do sul, as Plêiades anunciam a chegada do verão e, quando esta vai embora, a chegada do inverno. Em terras mais frias do sul esta identificação tem toda razão de ser pois dela depende a sobrevivência – juntar alimento para o inverno, proteger crianças, guardar os animais pequenos, enfim toda uma série de ações que todo povo nômade coletor tem de executar com tempo para garantir a sobrevivência da sua gente.

Estas são algumas das conclusões de um trabalho muito bonito do pesquisador Germano Afonso, que estuda os mitos e estações no céu guarani:

constelação da Ema, anuncia a chegado solstício do inverno e a constelação do Cervo, que sinaliza o outono:

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foto:cienciaecultura

Constelação do beija-flor, marcando a primavera e a constelação do índio velho que anuncia a chegada do verão:

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foto: cienciaecultura

A mitologia como método de aprendizado

È no seu “pé no chão” que está o valor pedagógico do ensino da astronomia indígena – este é um conhecimento concreto, relacionado com elementos da natureza que cada criança pode ter certeza de que existe. Assim sendo, tem o efeito de aumentar o sentido de pertencer a um chão, a uma natureza, a um ecossistema. Por outro lado, a astronomia indígena também é história e cultura, promove a autoestima e a valorização dos saberes ancestrais que também promove esse sentido de pertencer. Agora, se você pensar que cada etnia tem suas histórias, sua compreensão de mundo, cada pedaço de chão tem sua biodiversidade, cada mitologia tem suas diferenças, esse sentido de pertencer que as crianças desenvolverão ao estudarem a mitologia indígena pela astronomia também se estenderá às diversas interpretações da mesma região do céu, por diversas culturas, ampliando e aprofundando a compreensão do ser pertencedor na diversidade cultural, que é o símbolo da nossa terra.

Fonte de referência: Ciência e Cultura – Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência

Fonte foto: espaço astrológico

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Redação greenMe

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