China não quer mais ser a lixeira do mundo. E agora José? Pra aonde vai o lixo?


É natural pensar que o país mais populoso do mundo, a China, seja também o que mais produz lixo e, portanto, seja o maior poluidor do planeta. Mas a potência oriental está mudando a situação do lixo e veja quais são as consequências disso.

A China recebe a maior parte do plástico descartado pelos demais países do mundo. Entretanto, o governo chinês aprovou, em 2017, uma lei que proíbe a importação de plástico, papel, restos de minérios e da indústria têxtil.

A notícia parece ótima, já que isso deveria significar menos lixo sendo produzido e descartado. Por isso, pesquisadores da Universidade da Geórgia (Estados Unidos) fizeram um cálculo sobre real impacto dessa legislação e, consequentemente, como ela afetará o descarte de plástico no meio ambiente.

O estudo, que foi publicado na revista Science Advances, chegou à conclusão de que serão deslocadas 111 milhões toneladas de plástico até 2030. Entretanto, não se sabe qual será o destino desse montante.

Tanto a China quanto Hong Kong são responsáveis pela importação de cerca de 72% de todo o lixo plástico do mundo. Já Europa, Ásia e Américas são responsáveis por mais de 85% de todas as exportações de lixo plástico, sendo que a União Europeia é quem mais descarta esse tipo de resíduo. Já o Brasil, segundo a BBC News, exportou para a China, em 2017, 25,3 mil toneladas de papel e 14,6 mil toneladas de resíduos e restos de metais para reciclagem, como cobre, alumínio e aço, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

Esse negócio é muito lucrativo para quem produz o lixo, visto que as taxas chinesas de processamento de resíduos são muito baratas – é menos custoso enviar lixo por navio para a China do que transportá-lo em caminhão ou trem para a reciclagem nos próprios países que o produzem. Por outro lado, para a China, há cerca de 30 anos esse negócio também tem sido lucrativo, visto que o material plástico reciclado é transformado em novos produtos de plástico, que podem ser encontrados em lojas espalhadas em qualquer lugar do mundo.

Soluções

Segundo Jenna Jambeck, uma das autores do estudo:

É difícil prever o que acontecerá ao lixo plástico que antes era destinado às instalações de processamento chinesas. Uma parte deverá ser exportada para outros países, mas a maior parte dos países não têm infraestrutura para gestão de seus próprios resíduos e não vão querer o lixo produzido pelo resto do mundo”, informa o Estadão.

Jambeck alerta para a necessidade urgente de serem pensadas alternativas, de forma sistêmica, para a reciclagem de modo que os resíduos plásticos não acabem em aterros sanitários.

Soluções como enviar o material para outros países ou a incineração têm custos altos e não resolvem o problema da produção de lixo na raiz, além de serem poluentes. A melhor alternativa seria combater o desperdício de produtos plásticos e, principalmente, o uso deles.

Consequências

A China, muito sabiamente, quer preservar o seu meio ambiente e, por isso, decretou a nova lei com a justificativa de garantir a proteção ambiental e de que a própria reciclagem do lixo do país já é suficiente para atender a indústria local.

A proibição, desde 2018, da importação de materiais para a reciclagem está preocupando vários países do mundo. A Organização Mundial do Comércio (OMC), junto com os países exportadores, estão tentando negociar com a China uma dilatação de prazo e um período de transição de cinco anos, segundo a BBC.

Entretanto, de acordo com o Escritório Internacional de Reciclagem (BIR, na sigla em inglês), representante da indústria em nível global, estão sendo procurados novos mercados para o lixo reciclável, como Tailândia, Vietnã, Camboja, Malásia, Índia e Paquistão.

Isso nos faz pensar em que medida, de fato, os maiores produtores de lixo do mundo estão empenhados em resolver o problema da produção ou se apenas querem se livrar do lixo que produzem custe o que custar.

O diretor-geral do BIR, Arnaud Brunet, disse que:

“O que eu sinto é que não haverá retrocessos, que nossa indústria tem que se adaptar, seguir as regras e encontrar opções alternativas para o longo prazo”.

Tomara que assim seja e que essas alternativas não sejam apenas paliativas, mas que encarem o problema do lixo mundial de frente com o objetivo de que ele seja menos produzido.

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Gisella Meneguelli

É doutora em Estudos de Linguagem, já foi professora de português e espanhol, adora ler e escrever, interessa-se pela temática ambiental e, por isso, escreve para o greenMe desde 2015.


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