RJ: Complexo da Maré protesta contra violência do Estado


O Rio de Janeiro foi palco, no último dia 23, de um protesto de moradores de uma de suas maiores favelas, o Complexo da Maré. Intitulado “Ato Pela Vida”, foi uma iniciativa totalmente pacífica, que pretendia atrair os olhares das autoridades e da opinião pública sobre os altíssimos índices de violência da região, sobretudo às recentes mortes de moradores, em diversos locais dessa região, sempre por autoridades do exército – que ocupam de maneira permanente a Maré –, ou policiais militares. Infelizmente, o ato foi interrompido quando forças da segurança começaram a atirar contra a população.

A maior ironia é a de que, segundo os órgãos de mídia tradicionais, como o portal G1, bandidos provocaram a polícia que, acuada, atacou. Tudo isso, além de apontar que o protesto fechou ruas importantes, como uma pista da Avenida Brasil. Ou seja, a responsabilidade, de um modo ou de outro, acaba recaindo sobre esses moradores carentes, que apenas querem ser reconhecidos como cidadãos.

Contudo, veja os seguintes depoimentos que mostram outras visões sobre os fatos:

Primeiro esta espécie de crônica extraída da página facebook “Quebrando o Tabu“:

“Na favela, chega o exército, o caverão e o caminhão de cerveja. Mas não tem quadra de esporte, não tem escola, não tem coleta de lixo, não tem atividade cultural, não tem esgoto tratado. Na favela não tem fábrica de armas de fogo nem plantação de maconha ou de folha de coca. O menino com fuzil não é dono de helicóptero. Mas seus moradores são subjugados pelas forças da lei e tratados pela imprensa como se fossem a origem de todo o mal. Na favela a polícia faz de tudo, menos proteger a comunidade. Não pode tirar foto, não pode reclamar, não pode ter manifestação popular, não pode ser preto e pobre. Lá as balas não são de borracha e todo dia morre gente executada por quem deveria servir à vida. Na favela, a democracia não existe.”

E agora o depoimento de um dos participantes do ato e simpatizante da causa, extraído de sua página facebook:

“Eu, Guilherme Fernández, 37 anos, branco, “Zona Sul”, 3o grau completo, fui me misturar com crianças, mulheres, trabalhadores, mães e pais de família, diariamente classificados como “negros”, “pobres”, “favelados”, “suspeitos de”, “traficantes”, “sem instrução” pelos jornais – seres humanos como eu! – e tentar somar forças em sua luta pela vida, ao sentir de perto um pouco de sua indignação, exigências e esperança. Acima de tudo, vi a dignidade nos rostos e corpos que ali estavam – e só de ali estarem, já estavam com medo, receosos de represálias por se manifestarem. A passeata seguiu pela Avenida Brasil e Linha Amarela, onde foi dispersada por tiros de fuzil com balas traçantes disparados pelo Exército, num primeiro momento (…) Parabéns pela manifestação de coragem de ontem. Agradecido por me receberem tão bem.“

Talvez uma ‘boa’ perspectiva seja a contida neste vídeo, que, revela, de dentro do ato, muito da truculência daqueles profissionais que tem como dever último defender a população, sem excluir ninguém pelo simples fato de ser pobre.

É definitivamente triste que, em 2015, ainda vigore no Brasil um Estado tão arbitrário, beligerante e militarizado. Isso traz lembranças de uma página terrível de nossa história: a Ditadura Militar. Que consigamos superar isso, o mais breve possível. E que o direito constitucional à livre manifestação – como a do “Ato Pela Vida” – seja respeitado em sua plenitude. Enquanto isso não acontece, seguimos como um país de segunda categoria.

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Fonte foto: Matias Maxx – Vice




Redação greenMe

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