Homens que replantaram o deserto, recuperando a fertilidade do solo


Técnicas antigas, quase esquecidas, devem ser resgatadas para que o ser humano consiga recuperar a fertilidade do solo. Aqui mostramos o resultado desse trabalho, de luta contra o avanço da desertificação nas regiões do Sahel, onde povos que vivem na savana, aplicando técnicas aprendidas com os mais velhos, conseguiram vencer o deserto e cultivar outra vez o solo, antes seco e erodido.

“É uma das maiores histórias de sucesso ecológico da África, um modelo para o resto do mundo”, são as palavras de Chris Reij, geógrafo da VU (Universidade Livre) Amsterdam para descrever o que vê acontecer no Sahel, nos últimos 30 anos. Os agricultores conseguem vencer o avanço do deserto, fazendo cordões de pedras.

Isso vem acontecendo em Burkina Faso, com o trabalho de Mathieu Ouédraogo e seus vizinhos, que desde 1981 experimentando em conjunto técnicas diversas para restauração do solo, algumas destas, técnicas antigas, tradicionais aprendidas na escola por Ouédraogo. É o caso da construção de longas filas de pedras, grandes como um punho de homem, que cruzam os campos. Quando há umidade no ar esta se aglutina nas pedras, umedecendo o local e mantendo a terra mais úmida e, quando ocorrem chuvas, os cordões de pedras protegem o solo endurecido do Sahel de ser lavado e erodido, dando às águas, tempo suficiente para se infiltrarem. Nessa circunstância, de infiltração lenta, lodo e sementes se acomodam num ambiente propício ao rebrote. E a vegetação, pouco a pouco, começa a reocupar espaços em terras antes duras e secas, trazendo mais água, mais sementes, biodiversidade. Primeiro vêm as gramíneas, logo substituídas por arbustos e árvores, que deixam suas folhas no solo, enriquecendo-o. Em poucos anos, uma simples linha de rochas pode restaurar um campo inteiro.

O homem que semeava no deserto, Yacouba Sawadogo

Em 1979, em Burkina Faso, houve uma seca tremenda. A terra esturricou, as águas secaram, os moradores abandonaram suas casas buscando outros lugares menos inóspitos para viver.

Um homem decidiu ficar, um fazendeiro, com suas 3 espôsas e 31 filhos, na terra que era de sua família: “Do avô do avô de meu avô, nós sempre aqui”. Este homem, Yacouba Sawadogo, usando uma técnica ancestral de cultivo, Zai, primeiro plantou cereais para alimentação da sua família. Na sequência, outras plantas começaram a aparecer, carregadas pelas chuvas ou no estrume que ele usava para adubar suas terras. Assim surgiram acácias e arvores de fruto. Assim ele criou toda uma floresta em seus 12 hectares de terreno.

A técnica Zai consiste em se cavar buracos largos e fundos, em linha, pelo campo afora, distante uns 2 passos uns dos outros.

Também ele usou os cordões de pedra, intercalados com os buracos, cercando os mesmos, assim diminuiu ainda mais a velocidade das águas, impedindo de lavar a terra e protegendo as covas adubadas com estrume. A terra ficou assim protegida de lavagem pelas chuvas, da erosão pela água e pelo vento, criando nichos ecológicos onde as sementes da região conseguiram medrar com força. Segundo ele conta, quando começou a ter problemas de espaço, deu preferência à manutenção das árvores e, posteriormente também começou a plantar ervas medicinais que forneceram os medicamentos necessários à sua comunidade.

Um aliado importante na reconstituição da camada orgânica do solo erodido do deserto foi a presença de cupins que, atraidos pelo esterco colocado nas covas, vinham digerir a matéria orgânica disponibilizando seus nutriente para as plantas que ali cresciam. Também foi trabalho de cupins a escavação de canais no solo que permitiram a entrada da água, no tempo das chuvas. Uma perfeita simbiose, fundamental para a sobrevivência de uns e outros. Em cada buraco Sawadogo plantava uma árvore: “Sem árvores, nenhum solo”, diz ele. A verdade é que as árvores assim plantadas prosperaram no solo mais solto e mais úmido de cada “zai”. Assim, pedra por pedra, buraco por buraco, Sawadogo transformou 50 hectares de terreno baldio na maior floresta privada, área fertil que conquistou ao deserto.

Foi assim que Sawadogo se viu como “o único agricultor daqui para Mali que tinham qualquer painço.” E foi um bom exemplo pois, seus vizinhos formaram uma associação Zai para promover o uso da técnica na região. Centenas de agricultores vieram aprender com Sawadogo essa técnica antiga, já esquecida por muitos mas, fundamental para sua sobrevivência lá.

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Fonte foto: zaplog.nl




Redação greenMe

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